sábado, 2 de julho de 2011

Aos meus amigos

De Dublin, terra de Oscar Wilde, dedico aos meus amigos;

Meus amigos:
não preciso momeá-los;
os que são sabem.
E a escolha mútua 
nos faz anjos e loucos, 
atados,
com laços invisíveis,
sempre. 
[Marília Barreto, Dublin Julho de 2011]


[Estátua de Oscar Wilde no Merrion Square, Dublin]

Loucos e Santos - Oscar Wilde


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.


Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.


A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.


Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.


Deles não quero resposta, quero meu avesso.


Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.


Para isso, só sendo louco.


Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.


Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.


Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.


Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.


Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.


Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.


Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.


Não quero amigos adultos nem chatos.


Quero-os metade infância e outra metade velhice!


Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.



[Leitura de Juca de Oliveira, áudio excelente]

[Antônio Abujamra, excelente interpretação, mas áudio baixinho]

Crazy & Saints - Oscar Wilde

I choose my friends not by their skin or other archetype, but by the pupil.
They have to have questioning shine and unsettled tone.
I'm not interested in the good spirits or the ones with bad habits.
I'll stick with the ones that are made of me being crazy and blessed.
From them, I don't want an answer, I want to be reviewed.
I want them to bring me doubts and fears and to tolerate the worst of me.
But that only being crazy.
I want saints, so they daunt doubt differences and ask for forgiveness for injustices.
I choose my friends for their clean face and their soul exposed.
I don't just want a man or a skirt, I also want his greatest happiness.
A friend that doesn't laugh together doesn't know how to cry together.
All my friends are like that, half foolish, half serious.
I don't want foreseen laughter or cries full of pity.
I want serious friends, those that make reality their fountain of knowledge, but that fight to keep fantasy alive.
I don't want adult or boring friends.
I want half kids and half elderly.
Kids, so they don't forget the value of the wind blowing on their faces and elderly people so they're never in a hurry.
I have friends to know who I am.
Then seeing them as clowns and serious, crazy and saints, young and old, I will never forget that 'normalcy' is a sterile and imbecile illusion.




terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Duas vezes adolescente - Viajar 1

Aos trinta, somos duas vezes adolescentes e, ao mesmo tempo, duas vezes mais coerentes. Nessa fase já sabemos o que nos faz bem, e quando consumimos porções do que nos faz mal somos conscientes da dor-de-cabeça, ressaca, depressão que vai, de forma mais branda ou severa, nos visitar.

E, aos trinta resolvi fazer uma coisa que que sei que me faz bem: viajar! Antes, sabia que gostava [sonhava com a Europa], mas por um velho processo chamado de auto-boicote [que em outro post descreverei melhor], deixava pra lá projetos de viagem ao exterior até 2009 quando fiz a minha primeira viagem para o Velho Mundo. Fui só, passei 35 dias, conheci 7 países, cerca de 20 cidades, e fiz um curso intensivo para professores de inglês em Londres.

Senti que podia. Que o mundo era meu; aquela era a primeira vez que eu iria viajar de avião, e logo para outro país. Ao desembarcar no aeroporto de Lisboa, respirei aquele ar e repeti para mim mesma: o mundo é meu!

Agora, dois anos depois vou dar seguimento aos meus sonhos. Desamarrar as asas e voar livremente por aí. Será um projeto mais longo, de um ano na Irlanda, em Dublin. Vou estudar Travel and Business. E o amanhã? responda quem puder, eu ainda não sei.

Abaixo segue um texto que publiquei num grupo de discussão, o e-dublin, e o empresto para o Mulher aos 30, enquanto me decido sobre o nome do blog com minhas experiências de brasileira nordestina na Irlanda:

[em posts anteriores várias pessoas falaram de suas expectativas, angústias e desejos, e esta foi a minha contribuição]

Dears,
já passei, estou passando, e vou passar por várias dessas situações
que vocês descreveram;

Meus Amigos me dão apoio, aprendem comigo sobre a Irlanda, e dizem que
vai ser massa, mesmo sabendo que sentiremos saudades uns dos outros.

Minha mãe ficou chocada, um tanto calada, e vive querendo arrumar
minha mala, saber que roupas vou levar, etc. [coisas de mãe]

Algumas pessoas da família e amigos menos próximos já conversaram, e
pacientemente expliquei, a que vou, porquê vou, como vou, onde vou
ficar. Tem dias que dá vontade de fazer uma gravação básica, com estas
informações, mas na verdade eu gosto de falar mesmo rsrsrs!

O velho telefonema: "Maríliiiiiaaaaaa, pelo amor de Deus! Num vai pra
Irlanda não.... Você já viu as notícias da crise?"

Já tive surpresas, ao ver Seu Aroldo, chaveiro, pessoa simples me
surpreendeu quando disse que iria para a Irlanda: "Mas qual: a
independente, ou a do Norte? Ah, a República da Irlanda, Capital
Dublin, lia muito sobre lá nos Cadernos de Terceiro Mundo. Havia
textos sobre a divergência entre católicos e evangélicos, não é
isso?" [Toma Marília! Seu Aroldo sabe, viu?]

Mas por que você não investe este dinheiro e troca de carro, faz isso
ou aquilo? Sorriso sempre: "Cada um sabe o que é melhor para si; e a
felicidade tem receitas diversas".[balõezinhos com "@$%¨&*&%#@ e eu lá
fico especulando em que você deve investir, gastar, ou perder seu
dinheiro]

Já tive raiva e vontade de rir com algumas pérolas:

1 - Você vai pra onde? Para a Irlanda [cri, cri, cri silêncio]
Pra onde? Irlanda. [finge que entendeu, e que sabe de tudo sobre lá]

2 - Eita, que massa! Você vai para a Europa! A Irlanda faz fronteira
com que país mesmo? [resposta apenas no balãozinho do pensamento: faz
fronteira com seu conhecimento de geografia]

2 - E porque não vai para os EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia,
Inglaterra, África do Sul [ou para a pqp] ?

Resposta do balãozinho [mais uma vez, aquele que ilustra nosso
pensamento não expresso em palavras]: eu ia p a pqp, mas achei melhor
ir para a Irlanda, tendo em vista que na primeira opção poderia lhe
encontrar, pois é exatamente pra lá que você deveria ir.

Resposta real: sorria e responda, mais ou menos da sua verdade,
dependendo de para quem é. Tenha paciência, afinal, a Irlanda não
está entre os países mais conhecidos do mundo. Eu mesma não conhecia
muito mais do que Dublin, U2, é uma ilha e a moeda é o Euro.

Estou indo para a Irlanda pois vou poder fazer um curso que não seja
General English; sou professora de inglês, sei que tenho muito a
aprender, mas creio que 6 meses de curso de língua seriam demais para
mim;

Vou para a Ilha Verde, pois vou poder trabalhar legalmente como
estudante, e ajudar a pagar minhas despesas durante o curso. A
imigração é bem menos complicada do que em outros países;

A terra dos Leprechauns é na Europa, e apesar de ser uma ilha, há a
possibilidade de se viajar barato de avião para outros países;

E, é na Ilha Esmeralda que vou passar meu 2011, sentir frio, saudade
[de pessoas e lugares, de conversas e de meu lugar], vontade de comer
cuscuz, carne-de-sol, macaxeira, tapioca, e tomar cerveja gelada à
noite nos bares de calçada de Campina Grande;

É, no país de São Patrício, que vou conhecer novas pessoas, viver
coisas diferentes da minha [agora antiga] rotina, beber Guinness,
comer não sei o que com batata, aprender, e ter muita história para
contar.

É por isso que eu vou!

Marília Barreto

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A mulher Madura

Affonso Romano de Sant'Anna

O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos.

De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.

Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.

A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.


A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.

A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.

A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.

O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apal
pa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.

Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.

Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.

Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.

A mulher madura está pronta para algo definitivo.

Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.

A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banha
m e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.

Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.

(15.9.85)


O texto acima foi extraído do livro "A Mulher Madura", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1986, pág. 09.


A lembrança deste belíssimo texto veio ao ver a participação de
Affonso Romano de Sant'Anna, autor do texto, no 1º Salão Internacional do Livro , em João Pessoa -PB, dia 25 de novembro de 2010.

O Livro homônimo é de 1986, mas consegui comprá-lo na Saraiva, há poucos anos.

Marília Barreto (aos 30 mais um)


quarta-feira, 31 de março de 2010

Meus votos

Eu prometo muitas coisas, poucas delas cumpro.
Prometo que vou fazer dieta, escrever no blog,
que não vou mandar mensagem ou ligar,
que vou dar uma reviravolta na vida.
Promessas...

Não deixarei de fazê-las,
isso eu juro!
Quanto a cumpri-las:
como fast food,
ligo, mando mensagem,
dou voltas, reviro, e
até escrevo.

. descomprometo.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Eu Prometo!

Eu prometo que não vou mais abandonar meu blog.

Minha visita depois de um anos e uns meses.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Balzaca total

Bem, é chegada a hora de assunir os 30 e escrever. Textos nos próximos dias.